terça-feira, 8 de dezembro de 2009

5ª dose - do ser criança

Os alunos

"Dia após dia nega-se às crianças o direito de ser crianças. Os fatos, que zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se acostumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças." (De pernas pro ar, a escola do mundo ao avesso - Eduardo Galeano)

Querendo ou não a gente se compara com os outros, com os mais velhos e também com os mais novos e as diferenças são nítidas nas atitudes, nos hábitos, na forma de pensar e ler o mundo, na forma de ser. Não é difícil perceber as crianças perdendo a infância, é só tirarmos um pouco os olhos da tv, ou de repente, olharmos ela para além dela, ou quem sabe prestarmos atenção nas escolas, na família do vizinho. Grande parte das crianças perde a infância muito cedo. Cada vez mais elas parecem ser mini-adultos, e isso dá um medo! Não é incomum aquela fala do pai preocupado: "não quero que meu filho fique pra trás", daí o filho é inserido a seco na competitividade do mundo capitalista/consumista/e o caralho a quatro tendo que dar conta de várias competências e habilidades e fica pra trás quase todo o prazer da infância. Ou algo como "Meu filho é foda no cumputador, fala inglês, parece gente grande, já sabe o que quer desde pequeno, exige do bom e do melhor, não quer qualquer marca de tênis e tem o vídeo-game de última geração." Fala-se nos meninos-prodígio, numa nova geração de crianças com racicínio mais rápido que o das gerações anteriores e coisa e tal. "É a evolução minha gente!" Fico me perguntando pra onde vai essa infância perdida. A sociedade adoece de tantos males, não ter infância deve contribuir para alguns desses. Mas enfim, não quero chover no molhado, acho que o texto do Galeano já nos instiga o suficiente a pensar sobre. "De pernas pro ar", eu encontrei na vitrine do sebo. Não é novidade dizer que o Galeano é fantástico, mas também não custa repetir...



Da janela do carro vejo uma infância rebolando no céu, tremulando a rabiola. O vento pede licença, a pipa faz que não. O vento insiste, sopra forte. A pipa busca prum lado e pro outro. O vento tinha avisado

Pic

Agora, o menino tá solto por aí.


(Vinicius da Cunha - setembro/2009)

2 comentários:

Alberto Ferreira disse...

Meu bom amigo.
Deveria haver um cruso que ensinasse a sermos criança né?
abraços.

Gabriela Holz disse...

na nossa sociedade onde tudo é valorado em cifras e as coisas são descartáveis e passageiras como Galleano se faz verdadeiro ao dizer que as pessoas são tratadas como lixo, ficou, velho, ruim não serve joga fora não importa se é um ser humano, então vemos crianças velhos e moribundos nas ruas sem nenhuma atenção, e todos desde cedo correndo para nã ficar para trás com medo de serem descartados...e esquecendo que são crianças, mulheres homens emfim seres humanos!!
muito bom o seu texto!!! muito me tocou!!
parabéms por ser essa pessoa sensível
beijos