terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

11ª

Madrugada na cara, o sono foi embora. Já é amanhã a mais de uma hora e não me despeço do hoje-ontem. Isso é um luxo em dias tão ligeiros ou um engodo para o corpo, que cansa. O menino me segue pelos cômodos em fotografias sem assinatura. Eu sei de onde vem. Na parede a infância azul compete com o amarelo do tempo enternecendo o reboco, o concreto, a ferragem galvanizada. As memórias estão sempre à minha espera nas esquinas, que são outras. Outras, como minhas faces, que são a mesma por debaixo da calvície que vem, do grisalho nascente, da metamorfose que sou. Sigo então, com o aparente sem-assunto de costume, tão recorrente em mim que às vezes acredito ser o menino frente uma visão futura, sem compreender e sem se dar conta disso. Então o alívio não vem, nem eu o quero. Cultivo essa ausência de senso, como se fosse a dor de amor. E a infância, não é um amor que se foi?

Um comentário:

Maikon K disse...

esse texto me pegou pelo rabo do coração.
maikon k
www.vivonacidade.blogspot.com